Crescimento da economia pode ter mais fôlego do que se pensava
Depois de uma recessão, a economia se recupera pela ocupação da capacidade ociosa. É a expansão cíclica: o PIB efetivo estará menor do que o PIB potencial. A diferença entre eles se chama hiato do produto. Quando o hiato se esgota, a continuidade do crescimento dependerá de novos investimentos e/ou da elevação da produtividade. Sem isso, a expansão desaguará em aumento da taxa de inflação.
O Brasil se encontra em processo de recuperação cíclica. Até agora, pensava-se que o hiato do produto se esgotaria em 2018. Na ausência de investimentos e de ganhos de produtividade, a recuperação perderia fôlego a partir de 2019 ou haveria mais inflação.
Estudo recente pode mudar essa perspectiva, pois o hiato do produto pode ser maior do que se imaginava. O PIB potencial, que determina o hiato, é difícil de calcular, pois depende de variáveis não observáveis. Os economistas têm buscado melhorar seus modelos de projeção para capturar da forma menos imprecisa o hiato do produto.
Recentemente, dois economistas da Instituição Fiscal Independente do Senado (IFI), Rodrigo Orair e Rafael Bacciotti, utilizando a metodologia da OCDE, calcularam que o hiato do produto pode estar entre 7% e 8%.
Essa boa surpresa está levando muitos a rever as estimativas, tanto do fôlego da recuperação da economia quanto da taxa de juros do Banco Central, a Selic. Se os dois estiverem certos, como parece, o PIB poderia ter crescido entre 8% e 9% em 2017, e não o 1% divulgado pelo IBGE. A taxa Selic, que deve cair para 6,5% na próxima reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central, poderia depois ser reduzida para 6,25%.
Acontece que a conta não é tão simples assim. A ocupação do hiato do produto depende também de outras variáveis como confiança, oferta de crédito e renda. As três estão crescendo de forma gradual. Não é possível um salto. Assim, o aproveitamento do hiato calculado pelos economistas da IFI ocorreria ao longo dos próximos dois ou três anos.
A boa notícia é que o crescimento da economia em 2018, estimada por ora em torno de 3%, pode continuar em 2019 e 2020 e talvez 2021, na base de 3% a 4%.
A notícia é melhor ainda para quem ganhar as eleições de 2018. Se a vitória for de candidato comprometido com a continuidade das reformas estruturais, o próximo presidente poderá esperar pelo menos dois anos até que as mudanças acarretem um novo ciclo de investimento e produtividade. Durante o seu mandato, o crescimento lhe asseguraria nível de popularidade que permitiria sua reeleição em 2022. Viriam novas reformas e elevação do PIB potencial. Torçamos!