Brasil se distancia do objetivo de se tornar país rico
O país tem crescido a um ritmo inferior ao de nações desenvolvidas, sinalizando um crescente empobrecimento relativo
Desde a República, o Brasil tem acalentado a expectativa de integrar o grupo dos países ricos. De lá até os anos1970, parecia que estávamos no rumo certo. A economia se expandia a um ritmo superior ao das nações desenvolvidas. Ocorre, todavia, que isso não decorria de avanços institucionais e tecnológicos geradores de ganhos generalizados de produtividade, como aconteceu em casos de sucesso mundo afora. O impulso vinha basicamente de três fatores temporários: (1) da migração campo-cidade, a qual elevava a produtividade do trabalhador, que passava a operar em ambientes mais organizados e produtivos; (2) do protecionismo, que estimulava investimento na indústria, ainda que de baixa eficiência; (3) da tecnologia embutida na importação de bens de capital.
A partir da década de 80, esses fatores perderam força e um deles, o protecionismo, passou a operar em sentido contrário: empresas superprotegidas eram cada vez menos eficientes e distorciam a alocação de recursos na economia, destinando-os a fins menos produtivos. Eram nulos ou limitados os incentivos à inovação e cessou o benefício das migrações campo-cidade. Mais recentemente, surgiu um vento contrário, qual seja a perda do benefício do bônus democrático, em que a população em idade ativa cresce mais do que as de idosos e crianças. Agora é o contrário. A demografia representará um peso fiscal crescente e haverá redução da oferta de mão de obra. Em razão dessas desvantagens, o crescimento do PIB foi praticamente zero nos últimos dez anos. Esgotaram-se, pois, os fatores que explicavam o nosso rápido crescimento econômico.
Após os anos 1930 e até a década de 70, tudo indicava que seríamos um país rico. Éramos uma das cinco nações de maior crescimento. Tudo isso começou a se esfumaçar a partir da década de 80 e de forma inequívoca nos últimos dez anos.
Dados divulgados semana passada pelo FMI, escancaram essa dura realidade, segundo analisou o economista Samuel Pessôa em sua coluna deste domingo 24/4, na Folha de S. Paulo. Entre 2000 e 2007, o Brasil cresceu em média 3,6%, acima dos países ricos (que se expandiram 1,4%), mas isso começou a mudar para pior. Nos anos 2008-2019, esses resultados foram 1,6% e 2,6% respectivamente. Nas projeções para 2020-2027, poderemos crescer 1,4% ao ano, enquanto os países avançados se expandirão 1,6%. O Brasil está, pois, distanciando-se da renda per capita das nações desenvolvidas. Empobrece relativamente, o que limitará o avanço social e agravará a desigualdade na distribuição de renda e o nível de pobreza.
Claro, temos potencial para reverter essa grave situação, mas isso depende de reformas estruturais ousadas que elevem rapidamente a taxa de crescimento da produtividade, que é o principal fator de geração de renda e riqueza de um país. Isso implicaria, entre outros objetivos, melhorar a qualidade da educação, eliminar o caos do sistema tributário, ampliar a infraestrutura, particularmente nas áreas de saneamento básico e de transportes. E abrir a economia para expor nossas empresas à competição internacional, criando incentivos à inovação.
Seria preciso articular um pacto suprapartidário favorável à aprovação das reformas e à neutralização dos grupos que se antepõem a essas medidas. Trata-se dos que se nutrem do patrimonialismo, do protecionismo e dos privilégios, principalmente os que caracterizam a alta burocracia do setor público, em particular as do Judiciário e do Ministério Público.
Eleições podem ser a oportunidade para o debate dessas ideias e da escolha de líderes com capacidade de mobilizar a sociedade em torno dos desafios. Até agora, infelizmente, a campanha presidencial tem sido um deserto de propostas. E não se vislumbra, entre os candidatos, alguém com as requeridas qualidades de liderança.
Tendemos, pois, a continuar na rota da mediocridade econômica e social ou de piora da situação. Talvez isso possa criar o ambiente para o surgimento das condições favoráveis à virada dentro de quatro anos. Oremos.
Por Maílson da Nóbrega 24 abr 2022, 11h57
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