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23 de set de 2019 , 18h35

Aumento do déficit externo não é preocupante

Sede do Banco Central, em Brasília - 16/05/2017 (Ueslei Marcelino/Reuters)

O forte aumento do déficit em conta corrente do balanço de pagamentos, divulgado pelo Banco Central nesta segunda-feira, 23, não é motivo para preocupação. O acumulado em 12 meses até agosto passou de US$ 18,3 bilhões em 2018 para US$ 30,3 bilhões este ano, elevação de 65,6%. A expansão foi explicada basicamente pela elevação das remessas de lucros e dividendos e pela redução do superávit da balança comercial.

O noticiário voltou a usar o termo “rombo” para se referir ao déficit, mas isso não é apropriado. Não cabe adotar a mesma linguagem que se emprega para o déficit público. Na verdade, o país precisa ter déficit em conta-corrente, pois esta é a forma de absorver poupança externa, a qual é cada vez mais relevante dado o baixo nível da poupança doméstica, que pouco passa de 14% do PIB. Sem o déficit em conta-corrente, teríamos que investir menos, o que influenciaria negativamente o crescimento da economia.

O déficit em conta corrente até agosto de 2019 equivale a 1,8% do PIB. Vários estudos mostram que até 3% do PIB pode ser considerado um déficit ao mesmo tempo necessário e prudente para um país como o Brasil. Além disso, os investimentos estrangeiros no mesmo período atingiram US$ 41,2 bilhões, mais do que suficientes para financiar o déficit. Assim, o país não precisou endividar-se para cobrir o resultado negativo em conta-corrente do balanço de pagamentos.

De notar, por último, o nível de reservas internacionais, da ordem de U$ 380 bilhões, superior à dívida externa bruta, que é de pouco mais de US 320 bilhões. Isso significa que o Brasil tem a confortável situação de credor externo, ou seja, o mundo deve mais a nós do que devemos.

Em resumo, o aumento do déficit externo merece ser acompanhado de perto, mas ainda não é capaz de nos tirar o sono.

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