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2 de out de 2017 , 18h44

Apesar das pesquisas, Lula dificilmente será eleito em 2018

Lula sempre pode surpreender, mas dificilmente sobreviverá aos vendavais que têm minado e continuarão a minar sua candidatura. (Ueslei Marcelino/Reuters)

Se candidato,  Lula pode chegar ao segundo turno, mas dificilmente ganhará em 2018. Era o que acontecia até afastar, em 2002, o medo de seu radicalismo.

Lula saiu-se bem na pesquisa de intenção de voto para presidente, realizadas pelo DataFolha e ontem divulgadas pela Folha de S. Paulo. Ele tem 35% das preferências quando o candidato do PSDB é Geraldo Alckmin (8%) e 36% quando é João Doria (8%). Jair Bolsonaro, o segundo colocado, tem 17% e 16%, respectivamente.

A posição favorável de Lula se explica essencialmente por duas circunstâncias: (1) recall (lembrança) de seu nome pelos eleitores; (2) a exposição à mídia na caravana que recentemente liderou por cidades do Nordeste. Caso não se torne inelegível com uma condenação em segunda instância pelo Tribunal Regional da 4º Região, suas desvantagens tendem a se destacar durante a campanha.

Lula ganhou as eleições de 2002 por causa de três fatores: (1) a apresentação como “Lulinha Paz e Amor”, ao lado da competente campanha de TV do marqueteiro Duda Mendonça, o que afastou os temores de seu radicalismo; (2) José Alencar como vice da chapa e a Carta ao Povo Brasileiro, em que se comprometeu a seguir a política econômica de FHC, angariando o apoio do empresariado; e (3) a conquista do swing vote, isto é, o voto dos que mudam de candidato a cada eleição.

Essas vantagens viraram desvantagens. Lula voltou a ser radical. Agora se diz “jararaca” e dificilmente terá dinheiro para caras campanhas. Embora deseje o filho de José Alencar, Josué, como seu vice, é difícil que ele aceite o convite, dados os riscos da candidatura. Finalmente, tudo indica que perdeu a maior parte do swing vote, a julgar por sua rejeição.

É verdade que a rejeição caiu de 46% para 42%, ainda segundo o DataFolha, mas é provável que tenha se mantido muito elevada nas regiões Sul e Sudeste, de onde veio a maior parte do swing vote em 2002. O DataFolha não indicou os resultados por região, mas no levantamento anterior a rejeição era de 26% no Nordeste e passava de 50% no Sul e no Sudeste. Seja como for, nenhum candidato a presidente se elegeu com mais de 40% de rejeição.

É provável que a pesquisa ainda não tenha captado os efeitos devastadores do depoimento ao juiz Sérgio Moro em que Antonio Palocci descreveu crimes de Lula. Menos ainda o impacto da carta em que o mesmo Palocci pediu desfiliação ao PT, na qual relata de forma contundente os atos reprováveis de Lula.

De todo modo, na campanha, caso seja candidato, os ataques a Lula destacarão o efeito disso tudo em sua imagem, diminuindo as chances de vitória. Lulavoltou a ser um candidato que consegue chegar ao segundo turno, mas não vence. Como antes de 2002.

Ainda é cedo para diagnósticos mais firmes sobre as próximas eleições e Lulasempre pode surpreender. Mas dificilmente sobreviverá aos vendavais que têm minado e continuarão a minar sua candidatura.

(Blog da Veja, 2 out 2017)

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