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2 de dez de 2021 , 10h51

A economia brasileira decepcionou no terceiro trimestre

Ideia de que o Brasil surpreenderia o mundo, como diz o ministro da Economia, se frustra por causa de pandemia, clima e problemas estruturais da indústria

 

Em termos dessazonalizados, o PIB do terceiro trimestre ficou próximo da estabilidade, caindo 0,1%, diferentemente do que prometia o governo. Os serviços foram o único setor a se expandir: 1,1%. A indústria ficou estável e a agropecuária recuou 8%. Na métrica anual, quando comparado com o mesmo trimestre de 2020, o incremento do PIB alcançou 5,7%.

Os serviços se beneficiaram da abertura das atividades econômicas, permitida pelo avanço da vacinação. Os segmentos mais ligados a atividades presenciais foram favorecidos pelo arrefecimento das políticas de isolamento social e pela readaptação dos hábitos familiares. A maior expansão se deu no grupo denominado “outros serviços”, que compreendem basicamente hotéis, alojamento, restaurantes, cursos de idioma e turismo. Esse processo deve ter continuidade nos próximos meses, salvo se a nova variante Ômicron demandar novas medidas de restrição ao deslocamento de pessoas.

O forte desempenho negativo da agropecuária está associado a dois fatores. Primeiro, a redução de animais para abate, o que ainda é reflexo das fortes exportações de carne para a China em 2019 e 2020, motivadas pelos efeitos da peste suína naquele país. Com isso, os preços dos bezerros experimentaram expressiva alta, o que levou muitos pecuaristas a preferir vendê-los, em vez da atividade de engorda. Por esta mesma razão, houve maior retenção de fêmeas, com o objetivo de obter maior quantidade de bezerros. Em segundo lugar, esperava-se que essa situação se normalizasse em 2021, mas isso não aconteceu. O motivo foi a seca que atingiu as pastagens, associada à elevação dos custos de manutenção dos rebanhos. Neste caso, a razão foi o aumento de preços de farelo de soja e milho, causado pelo ciclo favorável de commodities agrícolas. O número de animais para abate caiu 2,9% em 2019 e 4,8% em 2020. Nos doze meses encerrados em junho, o último dado disponível, observou-se nova queda, de 4,4%.

Os resultados da indústria vêm decepcionando ao longo dos últimos meses. Na verdade, o setor já havia começado a exibir desempenho negativo em 2019. A expansão de 2020 e dos primeiros meses de 2021 se deveu a fatores temporários, derivados da pandemia. A queda do consumo de serviços acarretou a migração de consumidores para bens, particularmente os duráveis e para materiais de construção destinados a pequenas reformas, o que foi também impulsionado pelo auxílio emergencial. Assim, à medida que se torna possível a retomada dos serviços, a indústria volta à sua medíocre realidade.

A indústria sofre, pois, com problemas estruturais decorrentes, fundamentalmente, do caótico sistema de tributação de consumo, das deficiências de operação da logística e da baixa qualidade da mão de obra, além dos efeitos da baixa exposição à competição externa. Mais recentemente, a indústria tem sido prejudicada pelo aumento dos custos oriundo da alta de preços da energia no mercado doméstico e da desorganização das cadeias mundiais de suprimento, provocada pela pandemia. Sem reformas, a indústria deve continuar a exibir os piores resultados da economia brasileira.

Por Maílson da Nóbrega Atualizado em 2 dez 2021, 09h14 – Publicado em 2 dez 2021, 09h13

 

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