Dilma fala de novo de juros. E politiza o tema
A presidente não pára de falar no tema dos juros. Por onde ela vai, os jornalistas a enchem de perguntas. É a pauta mais quente destes dias. A rigor, esse não é assunto para o chefe do governo, mas Dilma sabe que a opinião pública adora que falem mal dos bancos. E vem sendo recompensada, pois seus ganhos recentes de popularidade têm a ver com sua cruzada pela queda do spread bancário.
Ontem, ela disse não haver justificativa técnica para a nível da taxa de juros no Brasil, dada a sua situação macroeconômica. Acontece que a gestão macroeconômica responsável pode contribuir para melhorar a confiança, mas no caso brasileiro pouco pode fazer para trazer os juros para níveis internacionais, como querem a presidente, empresários e alguns formadores de opinião.
Há razões técnica de sobra para que os juros brasileiros sejam o que são. Quem tiver estudado o mínimo do assunto sabe disso. Os melhores estudos são do próprio governo. Basta ir ao site do Banco Central e procurar pelos estudos sobre spread bancário. Os juros são altos por causa da baixa taxa de poupança e porque um terço da oferta de crédito está imune aos movimentos da taxa Selic (particularmente os empréstimos do BNDES). Como a taxa afeta apenas dois terços, ela precisa ser mais alta do que seria necessário se influenciasse o todo. Há outras razões, mas essas são as principais.
Ao dizer que não há justificativa técnica para o nível da taxa de juros, Dilma sugere que seus antecessores, inclusive Lula, estavam errados. Os juros são muitos elevados há muitos anos. Em segundo lugar, sinaliza estar disposta a uma ação política para fazer baixar os juros na marra. Até pode fazer isso dando ordens ao Banco Central para continuar baixando os juros (tornando claro o que já se suspeita), reforçando o comando para o Banco do Brasil e a Caixa Econômica continuarem a baixar seus juros. E dar mais dinheiro do Tesouro para o BNDES ampliar os subsídios creditícios.
Já se viu esse filme em outras ocasiões, aqui e em outras experiências populistas da América Latina. No final, o resultado será uma expansão irresponsável do crédito, a ampliação insustentável da demanda, a inflação e enormes prejuízos para os bancos estatais. A conta será paga pelos consumidores e pelos contribuintes, que na verdade são as mesmas pessoas. Adicionalmente, o potencial de crescimento diminuirá.